Sombras da Magia

Quando Elise dançava, eu perdia a respiração. Não devia ter mais que 17 anos e a idade dela regulava com a minha. O pequeno tablado que ocupávamos, iluminadas pela luz da fogueira que aquecia a taverna, parecia glorioso. Apesar das frustrações de uma vida limitada pelos poucos cobres de que dispúnhamos, não lembro de ter me sentido algum dia tão completa e confiante quanto ali. No tablado. Com ela. Mesmo com todos os ensaios, me apresentar com Elise era uma explosão de emoções. A dança dela me inebriava tanto quanto o público, que nos olhava com adoração. Eu a olhava com adoração, meus dedos percorriam as cordas do alaúde sozinhos, como se a minha vida dependesse da música não parar. Já ela, parecia mal me dar atenção, exceto quando algum giro fazia nossos olhares se cruzarem e ela me sorria com cumplicidade. No entanto, eu sabia pela leveza de seus passos e pequenos sinais secretos que a minha música a envolvia tanto quanto sua dança a mim. Claro que jamais prestávamos atenção à audiência. Eles vinham e iam. Eram sem importância. Um ou outro nos dava algumas moedas de ouro, mas, ao fim da noite, viravam parcas peças de cobre. Algumas vezes tínhamos sorte melhor e conseguíamos esconder mais dinheiro de Iago, nosso “feitor”. Estávamos, então, entretidas demais com nós mesmas para dar atenção ao nosso redor.