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O Pimpinela Escarlate

Sinopse

Uma multidão de seres – humanos apenas no nome, pois nos olhos e ouvidos pareciam nada mais do que selvagens criaturas, animadas por paixões vis, pelo desejo de vingança e pelo ódio – estava aglomerada, àquela hora, pouco antes do pôr do sol, na Barricada Oeste,[1] no mesmo local onde, uma década depois, um orgulhoso tirano ergueria um monumento eterno à glória da nação e à sua própria vaidade. Durante a maior parte do dia, a guilhotina manteve-se ocupada com seu horrível trabalho: tudo de que a França se gabara nos séculos passados, como nomes antigos e sangue azul, agora pagava o preço pelo desejo da máquina por liberdade e fraternidade. A carnificina só havia cessado, nesta hora tardia, porque havia outros locais mais interessantes para o povo testemunhar, pouco antes do fechamento das barricadas, no decorrer da noite. E assim a multidão saiu correndo da Place de la Grève[2] e dirigiu-se às várias barricadas para assistir a outro espetáculo interessante e divertido. Espetáculo esse que podia ser visto todos os dias, pois aqueles aristocratas eram uns tolos! Eram traidores do povo, é claro, todos eles, homens, mulheres e crianças, que, por acaso, eram descendentes dos grandes homens que desde as Cruzadas[3] haviam feito a glória da França: a sua antiga noblesse[4]. Seus antepassados haviam oprimido o povo, tinham-no esmagado sob os saltos escarlates dos seus delicados sapatos de fivela, e agora o povo tinha se tornado governante da França e esmagado seus antigos senhores – não sob os seus calcanhares, pois andavam descalços, especialmente nestes dias – sob um peso mais eficaz: o gume da guilhotina.