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Necrópole
- Vladislav Khodassiévitch
- 210 Páginas
Sinopse
Esta “cidade dos mortos” é certamente o trabalho mais conhecido e traduzido de Vladislav Khodassiévitch. Poucos textos terão exercitado de forma tão consumada a arte acridoce da rememoração de personalidades literárias. Tal gênero do “retrato” é essencial à tradição literária russa, tão central lá quanto pouco explorado entre nós, pela literatura brasileira. Cruel e terno, Khodassiévitch constrói um baú de ossos de talhe próprio, cheio de figuras vivas e do colorido tão peculiar a uma intelliguêntsia russa que agora estava “dormindo profundamente”, no verso de Bandeira tornado epígrafe por Pedro Nava. Um século antes do poeta exilado, o publicista Piotr Tchaadáiev não teve dúvidas em localizar a sua famosa “Carta filosófica” na cemiterial “necrópolis” que era a Moscou de Nicolau I – note-se aqui o uso do termo grego, “bizantino”, em contraste com a forma latina, sedutora imagem da cultura ocidental. Em 1936, não sabemos se a “necrópole” de Khodassiévitch é a atraente Paris, metamorfoseadora de poetas em motoristas de táxi, ou a Moscou stalinista.
Bruno Barretto Gomide
“Por via deste breve relato, menos que satisfazer a curiosidade do leitor de atualidades, desejo preservar alguns esboços autênticos para a história literária, que já vem tratando, e no futuro tratará com ênfase ainda maior, da época do simbolismo como um todo [...]. Esse desejo me obriga a ser rigorosamente fiel à verdade. Considero que tenho o dever (nada fácil) de excluir da narração os pensamentos hipócritas e os circunlóquios. Que não se espere de mim uma imagem icônica ou didática. Representações desse tipo são daninhas para a história. Estou convicto de que são também imorais, pois apenas uma imagem verdadeira e integral de uma pessoa notável é capaz de revelar o que há de melhor nela. A verdade nunca será baixa, porque nada existe acima da verdade. Ao “engano edificante” de Púchkin devemos contrapor a verdade edificante: cabe aprender a prezar e a amar a pessoa notável com todas as suas fraquezas, às vezes até mesmo em função dessas próprias fraquezas.