Lisboa II: Os Países Neutros e a Pilhagem Nazi

Em setembro de 1940, o paquete americano SS Excalibur andava a ziguezaguear pelo oceano Atlântico entre Nova Iorque e Lisboa, dois portos neutros. As viagens que fazia para leste, em direção a Portugal, eram calmas, já que poucos passageiros procuravam o continente europeu, agora que a guerra o dilacerava. A tripulação aproveitava estas travessias calmas para pôr em dia a manutenção do navio, fazendo pequenas reparações e lavando os conveses. Já a viagem de regresso era outra história. Desde a queda de França, nesse verão, que milhares de refugiados tinham deixado Paris e os Países Baixos, atravessado o Sul de Espanha e alcançado Lisboa, onde esperavam até conseguirem uma passagem num transatlântico como o Excalibur, em direção ao Novo Mundo. Assim, o navio ia cheio até cima quando partia para oeste, para Nova Iorque. Os bilhetes estavam dez vezes mais caros do que antes da guerra. O caos instalava-se assim que se soltavam as amarras e o paquete começava a deslizar pelo Tejo, em direção ao oceano Atlântico. Centenas de pessoas assistiam às partidas do cais, acenando com lenços ou bandeiras portuguesas. Muitas famílias não conseguiam arranjar bilhetes suficientes para viajarem juntas e viam-se forçadas a separar-se, pelo que havia no cais pessoas desesperadas a ver partir os seus entes queridos em direção ao pôr do Sol e a um futuro incerto do outro lado do oceano.