ELATAMBÉM

L= ESTAVA: A ADRENALINA, a emoção, a euforia correndo por suas veias como ouro derretido. As sensações a invadiram no momento que ela passou pelas portas da sala do tribunal. Outros advogados sentiam essa excitação quando se levantavam para abrir, ou para encerrar, ou no momento em que o júri proferia o veredicto. No entanto, para Kelly McCann, o momento era este, a volta olímpica, seu passeio triunfal conduzindo a biga ao redor do coliseu enquanto a multidão rugia nas arquibancadas. Era melhor que drogas. Melhor que sexo — pelo menos, do que ela se lembrava ser sexo. Afinal, um orgasmo não passava de uma compensação por talvez vinte minutos de esforço. Já isso — isso! — era a recompensa por semanas de provação, meses de preparação, anos de sacrifício. A multidão se aglomerava na calçada em frente ao fórum e se espalhava pela rua. Os repórteres haviam forçado sua passagem até a frente; na parte de trás, estavam as vans de notícias da TV com suas antenas parabólicas apontadas para o céu como satélites do SETI Institute em busca de vida inteligente. Kelly foi recebida por uma rajada de flashes das câmeras quando se deteve no topo da escadaria. Diante dela, um mar de rostos voltados para cima e microfones em varas que se estendiam como pescoços de grous sobre suas cabeças. A imprensa estava lá — sua equipe cuidara disso —, e os manifestantes também estavam lá — a imprensa também cuidara disso —, com seus cartazes rabiscados à mão erguidos tão alto quanto as câmeras e os microfones. #MeToo e Justiça para Reeza e Levem o estupro a sério e Acreditem em Reeza. Alguns deles estavam lá desde o primeiro dia da seleção do júri, e seus cartazes agora estavam gastos e com os dizeres borrados por conta da chuva, um orgulhoso emblema de sua resistência.