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Doppelgänger
- Naomi Klein
- 655 Páginas
Sinopse
Em minha defesa, jamais foi minha intenção escrever este livro. Eu não tinha tempo. Ninguém me pediu. E várias pessoas me alertaram com veemência contra a ideia. Não agora – não com os incêndios, literais e metafóricos, que assolam o nosso planeta. E certamente não sobre este tema.
A Outra Naomi – é assim que me refiro a ela agora. Essa pessoa com quem eu tenho sido cronicamente confundida há mais de uma década. Minha doppelgänger de cabeleira exuberante. Uma pessoa que tantas outras parecem achar indistinguível de mim. Uma pessoa que faz muitas coisas extremas, por causa das quais desconhecidos me condenam com severidade, me agradecem ou expressam pena de mim.
O próprio fato de eu me referir a ela me valendo de qualquer espécie de código demonstra o absurdo da minha situação. Durante um quarto de século, fui uma pessoa que escreveu sobre o poder corporativo e as devastações que ele engendra. Eu me esgueiro furtivamente para dentro de fábricas desumanas em países distantes e através de fronteiras para bisbilhotar ocupações militares; faço relatos sobre as consequências de derramamentos de petróleo e furacões de categoria 5. Escrevo livros de Grandes Ideias sobre Assuntos Sérios. E, no entanto, nos meses e anos durante os quais este texto surgiu – uma época em que os cemitérios ficaram sem espaço e bilionários se lançaram espaço sideral afora –, todas as outras coisas que eu tive de escrever ou poderia ter escrito me pareceram apenas uma intromissão indesejada, uma interrupção rude. Por acaso eu aceitaria participar de uma série de eventos antecedendo uma importante Cúpula do Clima das Nações Unidas? Não, sinto muito, minha agenda já está lotada de compromissos. Tem algum comentário a fazer sobre a retirada das tropas estadunidenses do Afeganistão? Sobre os vinte anos do 11 de Setembro? A invasão russa da Ucrânia? Não, não e, de novo, não.