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Um Crime Para Madame

Sinopse

Comecemos com esta verdade básica: sou incorrigível. Talvez não seja bem assim. Por quê? Porque, no meu lugar, a metade dos homens teria feito o mesmo que eu fiz. Mais da metade. Mais de três quartos, até. Provavelmente todos, exceto um punhado de covardes que não entram em conta. O leitor é um homem e se for medianamente honesto reconhecerá que tenho razão. Em grande maioria, nós, homens, somos loucos por mulheres bonitas. Alguns são mais prudentes do que outros, naturalmente, mas nove em dez ainda não passam de bonecos nas mãos delas. E o único motivo de eu estar falando somente de mim agora, foi ter o tiro saído pela culatra. E quanto a isso não sou o responsável, quer seja um estouvado ou não. Foi uma lamentável coincidência, dessas que acontecem uma vez em um milhão. Trata-se de um desses casos que acontecem cegamente e mesmo agora não sei exatamente por onde começar. Podia iniciar a história com a falta de casas, naturalmente, ou com Lee Nelson, o nosso senhorio, com as suas idéias esquisitas de ajudar aos empregados. Talvez mesmo pudesse começar com Danny O’Connor, aquele irlandês escanifrado do quarto vizinho. Ou devo iniciar a história com o telegrama que anunciou a Helene, minha mulher, que sua Tia Catarina vinha passar a noite conosco? Ou antes disso, naquele desagradável momento em que Helene descobriu que mesmo depois de noivo eu não deixava de olhar para as mulheres? Conforme disse, não sei por onde começar. Contudo, volto sempre, finalmente, para a mancha de sangue marcada com um X e começo naquela tarde de verão quando vi da minha janela uma moça descer de um táxi defronte à minha casa. Raramente vinha alguém ali. Mais raro ainda era tratar-se de "alguém" para quem valesse a pena olhar. Eu já estava a estourar de aborrecimento daquela monotonia. Odiava o ar estupidamente cortês de Nelson, o eterno resmungar da sua mulher, o papel manchado das paredes e aquele cheiro persistente de repolho, couve-flor, ou vagens fermentadas.

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