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Da Chanchada ao Cinema Novo

Sinopse

Os primeiros anos da década de 1960 – o período que vai de 1960 a 1963 – presenciaram um processo de renovação decisiva do cinema brasileiro, consubstanciado na formação e consolidação do Cinema Novo. Uma nova estética foi criada, um novo olhar sobre o Brasil foi elaborado, algumas obras-primas foram feitas, mas houve uma perda. Um cineasta como Mazzaropi continuou mantendo um diálogo efetivo com um público vasto, alguns filmes foram muito bem nas bilheterias, mas as pontes com um público mais amplo, construídas por meio da chanchada, vieram abaixo, e novas pontes não seriam edificadas até os anos 70, vindo abaixo, novamente, na década seguinte, até o cinema brasileiro virtualmente desaparecer das telas na primeira metade da década de 1990. Houve, portanto, entre 1960 e 1963, uma renovação profunda e necessária e uma perda a ser lamentada, tendo um filme como Rio, 40 graus, que Nelson Pereira dos Santos lançou em 1955, atuado, perante um processo e outro, como o maior divisor de águas já existente na história do cinema brasileiro. E em relação a ele, Nelson Pereira dos Santos, segundo Glauber (Rocha, 2003, p. 110), “se transformou na principal personalidade revolucionária do cinema brasileiro”. A princípio ele não dividiu nada, uma vez que os frutos da renovação por ele estabelecida iriam amadurecer apenas alguns anos depois e, de forma mais sistemática, apenas a partir do início dos anos 60. E filmes anteriores a ele e pouco conhecidos, como Vento norte, um filme gaúcho dirigido por Salomão Scliar em 1951, e Tudo azul, lançado por Moacyr Fenelon no ano seguinte, já traziam elemento do neorrealismo e da crítica social que Nelson Pereira dos Santos consolidaria em seu filme de estreia. Nas páginas seguintes farei a análise de 40 filmes produzidos entre 1960 e 1963. É o período correspondente ao declínio e fim da chanchada e, concomitantemente, ao surgimento do Cinema Novo, quando foram produzidos seus primeiros clássicos. E o ponto final deste período pode muito bem ser situado no primeiro semestre do ano seguinte, ou seja, no golpe de março de 1964, que deu fim ao período de reformas retratado de diferentes formas, em seus anseios e frustrações, que se refletem nos filmes que analisarei a seguir. Meu objetivo será efetuar um panorama da produção cinematográfica do período, sem a intenção de fazer com que tal panorama seja exaustivo. Não me restringirei, por outro lado, aos filmes mais famosos e importantes, nem adotarei critérios de qualidade quanto à escolha dos filmes, uma vez que a análise de obras cinematográficas medíocres pode ser útil para a compreensão da produção cinematográfica de sua época, pensada de uma forma mais ampla.