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Brasil Fantástico: Histórias Fantásticas Saindo do Nosso saco Folclórico

Sinopse

Quando o Clinton me contou sobre a antologia Brasil Fantástico adorei a novidade. A despeito dos autores, não conheço todos, mas sou um apaixonado pelo folclore nacional, e apesar de meus livros mais conhecidos tratarem do mito do vampiro, costumo explorar nossas criaturas mais emblemáticas em minhas histórias de terror, fantasia e aventura, sempre dando uma roupagem nova e tentando resgatar a imagem medonha de muitos desses entes quiméricos e aquele precioso e bem-vindo friozinho na barriga que eles deveriam causar ainda hoje. Em tempos de internet, videogames e seriados mil, é um bom serviço que o contador de histórias presta, seja ele um escritor, roteirista de cinema, TV ou teatro, um ilustrador de HQs, apresentando aos leitores e espectadores contemporâneos as caras de uma boa Cuca, de um Saci-Pererê ou um Cabeça de Cuia. Esse saco do folclore nacional oferece um bocado de outras criaturas se você o sacudir, uns tantos menos ilustres que os já conhecidos Boitatás e Curupiras, ainda assim também bizarros e curiosos. A Perna Cabeluda? Está aí um bom exemplo. Alguém já ouviu falar? Basta consultar os buscadores para entender como essa lenda do folclore brasileiro começou a ser contada. Uma perna solitária e sem corpo que vivia a apavorar a população recifense, perseguindo gente pelas ruas escuras, distribuindo chutes e pregando sustos. Sacuda o saco e cai ali uma pavorosa versão de Ana Jansen, controversa senhora condenada a vagar em sua carruagem assombrada pelas ruas de São Luís por conta dos maus tratos infligidos aos seus escravos. Será verdade? Nos tempos em que nossos avós eram crianças e ouviam da boca de seus avós histórias enfeitiçadas, cheias de mistério e municiadas com toda a sorte de enredos evocados por esses seres, amaldiçoados ou não, certamente quedavam-se de cabelo em pé e olhos abertos, revivendo aquelas lendas em suas camas solitárias, quentinhas e desprotegidas na hora de dormir e curtir seus mais doces pesadelos. Defendo muito o uso de nosso rico folclore na literatura de fantasia contemporânea. Nossos seres são muitos e curiosos. Alguns leitores, a princípio, torcem o nariz ao imaginar uma narrativa com um Saci ou com um Curupira, desconhecendo o plantel de artimanhas capazes de sair de histórias por onde eles passam. O escritor habilidoso vai tirar do leitor, com facilidade, alguns suspiros, encantos e, com um pouco de sorte, alguma agonia ao dar vida às criaturas mais sombrias do imaginário popular brasileiro. É justamente essa promessa que vem no bojo dessa safra de contos fantásticos, dando conta de boa parte do grande arsenal de mitos e criaturas folclóricas nacionais para entreter o leitor e provocar nos mais maduros a doce sensação de déjà vú.